O calendário santoral, no mês de junho, se distingue, dentre os demais, por celebrar a memória de santos que, além de reverenciados no culto litúrgico, ocupam um lugar especial na comemoração cultural que se mantém muito viva na Região Nordeste. Santo Antônio, São João e São Pedro, santos do povo, cultuados, respectivamente, nos dias 13, 24 e 29 de junho. O culto que lhes é prestado remonta às origens da colonização do Brasil, se enraizou na devoção e na cultura regional e é expressão da religiosidade popular.
O primeiro santo junino é Santo Antônio a quem reverenciam, de maneira muito especial, os namorados, uns invocando-o em preces conscientes e outros mediante imaginativas “simpatias”; veneram-no os pobres, por lhes distribuir o pão de cada dia, “o pão de Santo Antônio” que “continua a ser distribuído, em seu nome, em todas as igrejas franciscanas do mundo.” Um gesto de solidariedade e fraternidade franciscana! Santo Antônio, marcado por seu espírito missionário, nos tempos medievais, tornou-se um “exímio teólogo, peritíssimo exegeta e perfeito frade menor”.
O segundo santo popular, de tão destacado, deu nome ao mês - “mês de São João”. São João Batista é um santo que tem seu nome inscrito nas páginas do Evangelho e dos Atos dos Apóstolos. João Batista é uma figura identificada por sua personalidade e pela consciência que tinha de sua missão, como encontramos nas Escrituras e no cancioneiro católico: “... não sou a luz, mas conheço quem dela veio. Sou somente um religioso. (...) A verdade não sou eu, e também não sou o caminho. Sou apenas uma seta. Sou apenas um profeta.”
O terceiro santo junino, São Pedro, o pescador do mar de Tiberíades, foi elevado por Jesus à condição de “pescador de homens”, pedra sob a qual edificou a sua Igreja. Também por disposição do próprio Jesus, exerceu a primazia sobre o grupo dos apóstolos, na condição de primeiro Papa, primazia que se estende àqueles que o sucederam, ao longo da história, hoje exercida por Bento XVI, em relação ao universo de mais de 4.800 (quatro mil e oitocentos) Bispos católicos, em todo o mundo.
O aspecto cultural, nas mais variadas formas de manifestação em todo o Nordeste, gira, sobretudo, em torno de São João Batista. A versatilidade das comemorações juninas é uma das características dessa manifestação popular, em se tratando de comida, dança, música e traje típico, tanto nos afastados lugarejos, quanto nos turísticos centros onde se realiza o “Maior São João do Mundo” ou o “Melhor São João do Mundo”.
Na dimensão espiritual, estes santos são intercessores nossos, nessa longa travessia que fazemos entre a história e a eternidade, porque também eles trilharam o caminho da santidade, conhecendo atropelos e adversidades. Cada um, com os traços peculiares de sua personalidade, se assemelhou a Jesus Cristo, ao construir, de forma comprometida, a face terrestre do Reino de Deus. As comemorações juninas estão muito distantes desse aspecto distintivo de sua vida, a santidade, que é, precisamente, o ponto a ser imitado por nós.
Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE
Fonte: CNBB
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